Fim do mistério? Estudo explica saída dos vikings da Groenlândia

02 de fevereiro de 2020 3 minutos
Europeanway

Quando Eiríkr Torvaldsson, também conhecido como Erik, O Vermelho ou Erik, O Ruivo, desembarcou na Groenlândia no ano de 985, a ilha, hoje controlada pela Dinamarca, era dominada por enormes populações de morsas, animais de pele acinzentada e com enormes presas de marfim. Os vikings, lideradores por Erik, viveram naquele território até o século XV, quando subitamente desapareceram. As razões para o desaparecimento têm intrigado os pesquisadores há séculos, mas um novo estudo pode ter encerrado o mistério – e o desequilíbrio ambiental teria sido o motivo para o fim da era viking na Groenlândia.

A tese aparece em uma pesquisa publicada em janeiro pela revista Quaternary Science Reviews. Segundo a teoria, os vikings que se instalaram na ilha caçaram as morsas para aproveitar o marfim e vendê-lo na Europa continental. Sem controle, a caça dizimou as populações do animal, o que teria inviabilizado a colônia viking no território.

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“As medidas das cavidades das presas mostram que as morsas caçadas no fim da vida da colônia tendiam a ser menores, um sinal clássico de superexploração”, diz James Barrett, arqueólogo da Universidade de Cambridge e principal autor do artigo. Evidências genéticas dos restos de morsas ao longo do território e artefatos dos exploradores encontrados mais ao norte sugerem que os vikings foram forçados a viajar cada vez mais para encontrar marfim. “Juntando tudo”, diz Barrett, “deduzimos o esgotamento de recursos e viagens cada vez mais ao norte na Groenlândia para caçar morsas.”

Enquanto durou, o comércio de marfim foi uma atividade lucrativa para os vikings. Durante a Idade Média, o material era muito procurado na Europa, onde servia para a produção de itens de decoração, caixas de jóias sofisticadas e até peças de xadrez e de hnefatafl, um antigo jogo nórdico de tabuleiro.

As descobertas da pesquisa mostram a correlação entre o desequilíbrio ambiental e o econômico. Segundo Barrett, o valor do marfim das morsas teria despencado quando o dos elefantes foi introduzido em larga escala na Europa, em torno do ano 1200. Assim, os vikings tinham que caçar ainda mais não só para compensar a queda das populações de morsas, mas também para contrabalançar a chegada de um produto que competia pelo mesmo mercado.

As viagens para o norte, cada vez mais constantes, teriam ocorrido também sob um cenário igualmente desafiador: o da chamada Pequena Era Glacial, que derrubou as temperaturas no extremo norte do planeta. Os grandes deslocamentos, as perdas econômicas e o frio extremo passaram a ameaçar a atividade de exportação do marfim e também a própria sobrevivência dos exploradores.

O assentamento dos conquistadores durou até o período por volta de 1500. Um dos últimos registros escritos dos vikings da Groenlândia é a gravação do ritual cristão do casamento na igreja de Hvalsy, que existe até hoje. Os historiadores acreditam que os últimos vikings deixaram a ilha e se instalaram na Islândia – embora, segundo uma lenda dos esquimós, os remanescentes do assentamento tenham sido atacados por piratas.

Em 1540, uma expedição islandesa à Groenlândia não encontrou mais sinal de vida na colônia, apenas os restos mortais de um homem encapuzado, segundo registra o site Earth Chronicles. Talvez aquele tenha sido o último viking da Groenlândia.

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